É tão difícil imaginar o fim do capitalismo como imaginar que o capitalismo não tenha fim. O capitalismo, de forma articulada com as outras formas de poder modernas, o colonialismo e o heteropatriarcado, é hoje mais injusto e mais excludente em relação a grupos sociais mais amplos presentes em mais regiões do mundo do que em qualquer período anterior. A construção destas duas sociologias é o desafio a que nos propomos neste livro. Procuramos ampliar as possibilidades de pensar e reconhecer projetos concretos de emancipação com base em sociabilidades económicas, que resistem, ou estão para lá do capitalismo. Queremos levar a cabo um exercício coletivo de pensamento pós-abissal para o qual os sistemas de opressão são pensados para serem transgredidos. Propomo-nos, pois, fazer um enfrentamento teórico e empírico que envolve várias tarefas. Este livro não é dirigido somente a quem se dedica à sociologia económica ou à economia solidária. Trata-se de uma interface entre a economia política, o ecofeminismo, os estudos sobre o trabalho e outras economias que, longe de serem categorias fechadas ou disciplinares, são manifestações vivas da imaginação e das competências coletivas de resistência e transformação.