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Entrevistas Com Antonio Lobo A

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Prefacio Num texto enviado para a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro e postumamente recolhido no volume Ecos de Paris, Eca de Queiros desenvolve uma curiosa digressao acerca do termo e do conceito de entrevista. O vocabulo (melhor: o verbo) que entao se ia impondo era um anglicismo de evidente mau gosto: Este vocabulo interviewar , escreve Eca, e horrendo, e tem uma fisionomia tao grosseira, e tao intrusivamente yankee, como o deselegante abuso que exprime. Em vez deste, o grande escritor prefere o termo que hoje trivialmente utilizamos e explica o seu sentido metaforico: O verbo entrevistar, forjado com o nosso substantivo entrevista, seria mais toleravel, de um tom mais suave e polido. Entrevista de resto e um antigo termo portugues, um termo tecnico de alfaiate, que significa aquele bocado de estofo muito vistoso, ordinariamente escarlate ou amarelo, que surdia por entre os abertos nos velhos giboes golpeados dos seculos XVI e XVII . E quase a terminar a digressao, Eca rende-se ao neologismo, sublinhando nele a feicao de um acto em que as opinioes tufam, rebentam para fora, por entre as fendas da natural reserva, em cores efusivas e berrantes. No texto de Eca, aquela entrevista e o acto de entrevistar nao se reportavam a um escritor, mas antes a um rei, Humberto de Italia. Se os escritores ja tinham ganho a relativa notoriedade que o caso de Eca bem atesta (e, do mesmo modo, as suas influentes cronicas de imprensa), uma tal notoriedade situava-se ainda aquem da projeccao publica e sobretudo do proposito de revelacao do pensamento que a mencionada entrevista cultivava: o acto de sondar e puxar para fora o pensamento intimo do rei Humberto privilegiava uma figura com a relevancia politica de um monarca; e o jornal que acolhia a entrevista (o parisiense Figaro) acrescentava um bem nitido destaque a revelacao. Nao significa isto que declaracoes e confidencias arrancadas a um escritor nao pudessem ter interesse publico e sobretudo significado doutrinario. Justamente no seculo XIX assistiu-se a publicacao das Conversacoes com Goethe (1836-1848), por Johann Peter Eckermann, amigo, admirador e de certa forma confidente do genial autor do Fausto. Mas as ditas conversacoes (algo mais do que conversas) nao so nao podem ser confundidas com uma entrevista formal, tal como presentemente a entendemos, como a sua publicacao ocorreu em livro, revestindo-se, tambem por isso, de uma menor visibilidade (como hoje diriamos), ao mesmo tempo que ganhavam peso e densidade institucionais ; para alem disso, algumas vezes elas foram publicadas com o titulo Conversacoes de Goethe com Eckermann e mesmo como Conversacoes com Eckermann, aparecendo Goethe em lugar autoral. Mas se aquelas conversacoes tivessem aparecido nas paginas de uma gazeta da epoca, talvez rapidamente elas tivessem mergulhado no esquecimento que a publicacao na imprensa favorece, muitas vezes injustamente. Prolongar a vida da entrevista (ou das entrevistas) num livro pode ser um acto de salvaguarda da memoria do escritor e daquilo que ele significa para nos e para quem depois de nos vira: e esse, para ja, um dos meritos deste livro de Ana Paula Arnaut, hoje em dia uma das mais competentes estudiosas da obra de Antonio Lobo Antunes. O que desde logo encontramos nestas Entrevistas com Antonio Lobo Antunes (moduladas com o saboroso e enigmatico subtitulo Confissoes do Trapeiro, que a leitura do livro esclarecera) e a metodica recolha de um alargado conjunto de entrevistas dadas pelo grande escritor entre 1979 e 2007, ao longo das quase tres decadas em que se foi afirmando, evoluindo e refinando a obra daquele que e hoje geralmente considerado um dos maiores romancistas da nossa literatura. As entrevistas que neste volume podemos ler nao sao depoimentos fortuitos; sao circunstanciadas e nao raro alargadas indagacoes conduzidas por destacados jornalistas portugueses, em certos casos alguns daqueles que regular e atentamente tem acompanhado a producao literaria de Lobo Antunes e o seu trajecto de escritor. Por exemplo: Luis Almeida Martins, Clara Ferreira Alves, Rodrigues da Silva, Sara Belo Luis, Adelino Gomes ou Maria Augusta Silva. A recolha das entrevistas vai alem da compilacao e aprofunda-se num verdadeiro trabalho de edicao. E assim, o texto introdutorio de Ana Paula Arnaut e o indice de materias que encerra o volume apontam para caminhos exegeticos que estas entrevistas abrem e para dominantes semanticas que elas sugerem, sendo certo que as palavras do escritor nao devem ser lidas como directrizes interpretativas, mas antes como desafios a descoberta de sentidos que dialogicamente (ou seja: em regime de interpelacao) vao emergindo por entre as fendas da natural reserva . Nas palavras do entrevistado encontramos, naturalmente, o estilo Lobo Antunes, traduzido no seu bem conhecido tom discursivo: provocatorio, as vezes um tanto blase, a espacos intolerante, muitas vezes nostalgico, memorial e um tanto amargo, em certos momentos deixando entrever uma sensibilidade, mesmo uma ternura que so podem surpreender quem nao tiver convivio frequente com personagens, com situacoes e com emocoes que atravessam a ficcao do autor de Memoria de Elefante. Nao se procure, por fim, nestas Entrevistas com Antonio Lobo Antunes, uma chave-mestra para se entrar na sua obra, consabidamente uma obra complexa, narrativamente sinuosa e plurivoca, as vezes no limiar do hermetismo. Muito menos encontraremos aqui uma teoria do romance (ou das suas categorias fundamentais: personagem, tempo narrativo, accoes diegeticas, etc.), configurada como cupula doutrinaria de uma obra ainda em devir. Em vez disso, descubra-se nestas entrevistas o estimulante desafio para um encontro com um escritor que vive a escrita literaria com uma intensidade e com uma coerencia que sao tambem indicio claro de uma autenticidade artistica sem limite nem reservas. Carlos Reis
Autor(es):
Arnaut, Ana Paula
Dimensões:
23,0cm x 16,0cm x 2,5cm
Páginas:
616
ISBN:
9789724035314
Código:
0000012521
Código de barras:
9789724035314
Data de Lançamento:
01/01/2008
Coleção:
Monografias
Peso:
990
  • Informações do produto Seta - Abrir
    Prefacio Num texto enviado para a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro e postumamente recolhido no volume Ecos de Paris, Eca de Queiros desenvolve uma curiosa digressao acerca do termo e do conceito de entrevista. O vocabulo (melhor: o verbo) que entao se ia impondo era um anglicismo de evidente mau gosto: Este vocabulo interviewar , escreve Eca, e horrendo, e tem uma fisionomia tao grosseira, e tao intrusivamente yankee, como o deselegante abuso que exprime. Em vez deste, o grande escritor prefere o termo que hoje trivialmente utilizamos e explica o seu sentido metaforico: O verbo entrevistar, forjado com o nosso substantivo entrevista, seria mais toleravel, de um tom mais suave e polido. Entrevista de resto e um antigo termo portugues, um termo tecnico de alfaiate, que significa aquele bocado de estofo muito vistoso, ordinariamente escarlate ou amarelo, que surdia por entre os abertos nos velhos giboes golpeados dos seculos XVI e XVII . E quase a terminar a digressao, Eca rende-se ao neologismo, sublinhando nele a feicao de um acto em que as opinioes tufam, rebentam para fora, por entre as fendas da natural reserva, em cores efusivas e berrantes. No texto de Eca, aquela entrevista e o acto de entrevistar nao se reportavam a um escritor, mas antes a um rei, Humberto de Italia. Se os escritores ja tinham ganho a relativa notoriedade que o caso de Eca bem atesta (e, do mesmo modo, as suas influentes cronicas de imprensa), uma tal notoriedade situava-se ainda aquem da projeccao publica e sobretudo do proposito de revelacao do pensamento que a mencionada entrevista cultivava: o acto de sondar e puxar para fora o pensamento intimo do rei Humberto privilegiava uma figura com a relevancia politica de um monarca; e o jornal que acolhia a entrevista (o parisiense Figaro) acrescentava um bem nitido destaque a revelacao. Nao significa isto que declaracoes e confidencias arrancadas a um escritor nao pudessem ter interesse publico e sobretudo significado doutrinario. Justamente no seculo XIX assistiu-se a publicacao das Conversacoes com Goethe (1836-1848), por Johann Peter Eckermann, amigo, admirador e de certa forma confidente do genial autor do Fausto. Mas as ditas conversacoes (algo mais do que conversas) nao so nao podem ser confundidas com uma entrevista formal, tal como presentemente a entendemos, como a sua publicacao ocorreu em livro, revestindo-se, tambem por isso, de uma menor visibilidade (como hoje diriamos), ao mesmo tempo que ganhavam peso e densidade institucionais ; para alem disso, algumas vezes elas foram publicadas com o titulo Conversacoes de Goethe com Eckermann e mesmo como Conversacoes com Eckermann, aparecendo Goethe em lugar autoral. Mas se aquelas conversacoes tivessem aparecido nas paginas de uma gazeta da epoca, talvez rapidamente elas tivessem mergulhado no esquecimento que a publicacao na imprensa favorece, muitas vezes injustamente. Prolongar a vida da entrevista (ou das entrevistas) num livro pode ser um acto de salvaguarda da memoria do escritor e daquilo que ele significa para nos e para quem depois de nos vira: e esse, para ja, um dos meritos deste livro de Ana Paula Arnaut, hoje em dia uma das mais competentes estudiosas da obra de Antonio Lobo Antunes. O que desde logo encontramos nestas Entrevistas com Antonio Lobo Antunes (moduladas com o saboroso e enigmatico subtitulo Confissoes do Trapeiro, que a leitura do livro esclarecera) e a metodica recolha de um alargado conjunto de entrevistas dadas pelo grande escritor entre 1979 e 2007, ao longo das quase tres decadas em que se foi afirmando, evoluindo e refinando a obra daquele que e hoje geralmente considerado um dos maiores romancistas da nossa literatura. As entrevistas que neste volume podemos ler nao sao depoimentos fortuitos; sao circunstanciadas e nao raro alargadas indagacoes conduzidas por destacados jornalistas portugueses, em certos casos alguns daqueles que regular e atentamente tem acompanhado a producao literaria de Lobo Antunes e o seu trajecto de escritor. Por exemplo: Luis Almeida Martins, Clara Ferreira Alves, Rodrigues da Silva, Sara Belo Luis, Adelino Gomes ou Maria Augusta Silva. A recolha das entrevistas vai alem da compilacao e aprofunda-se num verdadeiro trabalho de edicao. E assim, o texto introdutorio de Ana Paula Arnaut e o indice de materias que encerra o volume apontam para caminhos exegeticos que estas entrevistas abrem e para dominantes semanticas que elas sugerem, sendo certo que as palavras do escritor nao devem ser lidas como directrizes interpretativas, mas antes como desafios a descoberta de sentidos que dialogicamente (ou seja: em regime de interpelacao) vao emergindo por entre as fendas da natural reserva . Nas palavras do entrevistado encontramos, naturalmente, o estilo Lobo Antunes, traduzido no seu bem conhecido tom discursivo: provocatorio, as vezes um tanto blase, a espacos intolerante, muitas vezes nostalgico, memorial e um tanto amargo, em certos momentos deixando entrever uma sensibilidade, mesmo uma ternura que so podem surpreender quem nao tiver convivio frequente com personagens, com situacoes e com emocoes que atravessam a ficcao do autor de Memoria de Elefante. Nao se procure, por fim, nestas Entrevistas com Antonio Lobo Antunes, uma chave-mestra para se entrar na sua obra, consabidamente uma obra complexa, narrativamente sinuosa e plurivoca, as vezes no limiar do hermetismo. Muito menos encontraremos aqui uma teoria do romance (ou das suas categorias fundamentais: personagem, tempo narrativo, accoes diegeticas, etc.), configurada como cupula doutrinaria de uma obra ainda em devir. Em vez disso, descubra-se nestas entrevistas o estimulante desafio para um encontro com um escritor que vive a escrita literaria com uma intensidade e com uma coerencia que sao tambem indicio claro de uma autenticidade artistica sem limite nem reservas. Carlos Reis
  • Especificações Seta - Abrir
    Autor(es):
    Arnaut, Ana Paula
    Dimensões:
    23,0cm x 16,0cm x 2,5cm
    Páginas:
    616
    ISBN:
    9789724035314
    Código:
    0000012521
    Código de barras:
    9789724035314
    Data de Lançamento:
    01/01/2008
    Coleção:
    Monografias
    Peso:
    990